Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa? Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto, de sangue
Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa E atordoado eu permaneço atento Na arquibancada, para a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto, de sangue
De muito gorda, a porca já não anda De muito usada, a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade? Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do Centro da Cidade
Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto, de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça, perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça
Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto, de sangue
Compositores: Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque) (UBC), Gilberto Passos Gil Moreira (Gilberto Gil) (UBC)Editores: Gege Editora (UBC), Marola Edicoes (UBC)Administração: Sony Music Publishing (UBC)Publicado em 2018 (24/Ago)ECAD verificado obra #2074386 e fonograma #19665768 em 11/Abr/2024 com dados da UBEM