Ainda que Beatles, Beach Boys e Brian Eno tenham provado que o estúdio é um local excelente para a criação de pop sofisticado e eterno, o fato é que o rock precisa ser presenciado ao vivo para que seja plenamente compreendido e apreciado. Nesses mais de cinquenta anos de pop rock a quantidade de grandes discos ao vivo é enorme, ainda que nos últimos anos eles funcionem mais como versão em aúdio do DVD sem as implicações e ambições artísticas de outrora. Hoje lembramos de cinco que merecem estar em qualquer discoteca. Entre vários outros álbuns que poderiam estar na lista vale lembrar de "Get yer Ya Ya's Out" dos Rolling Stones, dos dois discos gravados por Johnny Cash em penitenciárias (St. Quentin e Folsom Prison), as viagens psicodélicas do Grateful Dead ("Live Dead") ou mais blueseiras dos Allman Brothers ("Fillmore East"), os "Alives" de Kiss e Slade, o transcendental "It's too Late to Stop Now" de Van Morrison, "Weld" de Neil Young, "It's Alive" dos Ramones "Live" do Bob Marley e muitos e muitos outros.
Live at the Harlem Square Club, 1963 - Sam Cooke - 1985 - Sam Cooke foi para muitos (Rod Stewart, por exemplo) o maior cantor que já existiu. Cooke tinha timbre, afinação e feeling impecáveis e que ele tenha morrido tão cedo - assassinado pela gerente de um hotel aos 33 anos em situação não muito bem explicada - é uma daquelas tragédias com que temos de conviver. Esse álbum é considerado o melhor disco ao vivo da soul music (seu maior "competidor" "Live at The Apollo" de James Brown já foi comentado na nossa série). Que ele tenha demorado 22 anos a sair (mais ainda no Brasil) é também inexplicável. Felizmente a obra de Cooke é atemporal o bastante para tolerar esses "atrasos". Nesses 37 minutos estão condensados alguns dos momentos mais belos e viscerais de todo o pop. Imperdível é pouco.
The Bootleg Series, Vol. 4: Live, 1966: "The Royal Albert Hall Concert" - Bob Dylan - 1998 - Mais um que demorou para ser lançado oficialmente. Se a ideia de show envolve geralmente comunhão entre artista e plateia, esse álbum é o exato oposto disso. Em 1966 Dylan trocou o formato voz e violão pelo acompanhamento de um grupo de rock (que mais tarde se tornaria o lendário The Band). Os puristas reclamaram que seu herói estava se vendendo e foram aos shows com a intenção de protestar. Na primeira parte, acústica, tudo corre bem, ainda que as novas composições troquem a crítica social por imagens mais surreais. Já quando a banda entra o pau come. Ouvem--se aias, gritos, acusações e Dylan fica desconcertado. No fim um fã grita "Judas". Bob pede pra banda tocar mais alto. Segue-se a mais arrepiante versão de Like A Rolling Stone já ouvida.
Live at Leeds - The Who - 1970 - Em 1969 o The Who finalmente atingiu o grande público com a ópera rock "Tommy". A essa altura eles já eram provavelmente a melhor banda ao vivo do mundo. Daí ser natural lançar um álbum ao vivo enquanto o líder Pete Townshend criava a próxima obra. O Live at Leeds original tinha seis faixas e era um disco violento, onde covers conviviam com versões (bem) alongadas de hits como My Generation. Desde então o disco foi sendo alongado em versões sucessivas e foi possível ver que o grupo equilibrava momentos de ataque com outros de calma (e tinha fôlego para tocar "Tommy" integralmente). Para quem não tem o álbum, a versão ideal é a de 2001 com o show completo. Os fanáticos podem ir atrás da recém-lançada edição "super-luxo".
Unplugged in New York - Nirvana - 1995 - Coube á última banda a realmente mudar o cenário fazer o último grande disco ao vivo do rock e logo dentro do formato que ajudou a matar a categoria. Antes os discos ao vivo tinham a função de mostrar como a banda adaptava seu material de estúdio em cima do palco além de ser para muitos a única oportunidade de saber como era o show de sua banda favorita. Com o tempo os live albums se tornaram meros suvinires da última turnê ou um jeito de alavancar carreiras em baixa. Kurt Cobain não tratou o Unplugged como um show para a tv. Ele não regravou nada (é comum que os artistas refaçam as canções que não tenham ficado muito boas) e insistiu em um setlist com muitas covers e focado no lado mais calmo do Nirvana. Exibido pouco depois do suicídio do músico, o especial tornou-se o seu epitáfio.
Fa-Tal - Gal Costa - 1971 - Difícil de acreditar mas houve um tempo no Brasil onde os discos ao vivo eram raros e plenamente justificáveis. Esse aqui costuma ser considerado não só o melhor deles como também uma das obras fundamentais da MPB, pela sua qualidade musical e valor histórico em iguais partes. Em 1971 com Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio coube a Gal Costa manter vivo o espírito da Tropicália e da contra-cultura. Fa-tal nasceu da série de shows feitos no Teatro Tereza Raquel no Rio da Janeiro em 1971 (a gravadora gravou e lançou o disco duplo em tempo recorde) e que seguiu pelo verão do ano seguinte. Acompanhada por uma banda excepcional (incluindo o guitar hero Lanny Gordin) Gal ia da bossa nova à jovem guarda e do baião ao rock e ainda, ao gravar Pérola Negra, revelou Luiz Melodia pelo caminho.
Live at the Harlem Square Club, 1963 - Sam Cooke - 1985 - Sam Cooke foi para muitos (Rod Stewart, por exemplo) o maior cantor que já existiu. Cooke tinha timbre, afinação e feeling impecáveis e que ele tenha morrido tão cedo - assassinado pela gerente de um hotel aos 33 anos em situação não muito bem explicada - é uma daquelas tragédias com que temos de conviver. Esse álbum é considerado o melhor disco ao vivo da soul music (seu maior "competidor" "Live at The Apollo" de James Brown já foi comentado na nossa série). Que ele tenha demorado 22 anos a sair (mais ainda no Brasil) é também inexplicável. Felizmente a obra de Cooke é atemporal o bastante para tolerar esses "atrasos". Nesses 37 minutos estão condensados alguns dos momentos mais belos e viscerais de todo o pop. Imperdível é pouco.
The Bootleg Series, Vol. 4: Live, 1966: "The Royal Albert Hall Concert" - Bob Dylan - 1998 - Mais um que demorou para ser lançado oficialmente. Se a ideia de show envolve geralmente comunhão entre artista e plateia, esse álbum é o exato oposto disso. Em 1966 Dylan trocou o formato voz e violão pelo acompanhamento de um grupo de rock (que mais tarde se tornaria o lendário The Band). Os puristas reclamaram que seu herói estava se vendendo e foram aos shows com a intenção de protestar. Na primeira parte, acústica, tudo corre bem, ainda que as novas composições troquem a crítica social por imagens mais surreais. Já quando a banda entra o pau come. Ouvem--se aias, gritos, acusações e Dylan fica desconcertado. No fim um fã grita "Judas". Bob pede pra banda tocar mais alto. Segue-se a mais arrepiante versão de Like A Rolling Stone já ouvida.
Live at Leeds - The Who - 1970 - Em 1969 o The Who finalmente atingiu o grande público com a ópera rock "Tommy". A essa altura eles já eram provavelmente a melhor banda ao vivo do mundo. Daí ser natural lançar um álbum ao vivo enquanto o líder Pete Townshend criava a próxima obra. O Live at Leeds original tinha seis faixas e era um disco violento, onde covers conviviam com versões (bem) alongadas de hits como My Generation. Desde então o disco foi sendo alongado em versões sucessivas e foi possível ver que o grupo equilibrava momentos de ataque com outros de calma (e tinha fôlego para tocar "Tommy" integralmente). Para quem não tem o álbum, a versão ideal é a de 2001 com o show completo. Os fanáticos podem ir atrás da recém-lançada edição "super-luxo".
Unplugged in New York - Nirvana - 1995 - Coube á última banda a realmente mudar o cenário fazer o último grande disco ao vivo do rock e logo dentro do formato que ajudou a matar a categoria. Antes os discos ao vivo tinham a função de mostrar como a banda adaptava seu material de estúdio em cima do palco além de ser para muitos a única oportunidade de saber como era o show de sua banda favorita. Com o tempo os live albums se tornaram meros suvinires da última turnê ou um jeito de alavancar carreiras em baixa. Kurt Cobain não tratou o Unplugged como um show para a tv. Ele não regravou nada (é comum que os artistas refaçam as canções que não tenham ficado muito boas) e insistiu em um setlist com muitas covers e focado no lado mais calmo do Nirvana. Exibido pouco depois do suicídio do músico, o especial tornou-se o seu epitáfio.
Fa-Tal - Gal Costa - 1971 - Difícil de acreditar mas houve um tempo no Brasil onde os discos ao vivo eram raros e plenamente justificáveis. Esse aqui costuma ser considerado não só o melhor deles como também uma das obras fundamentais da MPB, pela sua qualidade musical e valor histórico em iguais partes. Em 1971 com Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio coube a Gal Costa manter vivo o espírito da Tropicália e da contra-cultura. Fa-tal nasceu da série de shows feitos no Teatro Tereza Raquel no Rio da Janeiro em 1971 (a gravadora gravou e lançou o disco duplo em tempo recorde) e que seguiu pelo verão do ano seguinte. Acompanhada por uma banda excepcional (incluindo o guitar hero Lanny Gordin) Gal ia da bossa nova à jovem guarda e do baião ao rock e ainda, ao gravar Pérola Negra, revelou Luiz Melodia pelo caminho.