Aproveitando o clima de natal hoje lembramos de alguns álbuns que tentam chegar ao espírito do ouvinte. Boa prte deles foi gravada por artistas com forte apego à religião ou que sentiram a necessidade de falar sobre temas que iam além do trivial. Os escolhidos ainda assim diferem bastante um dos outros. Enquanto Bob Marley sempre usou da música para espalhar os ideais rastafari, Bob Dylan sempre preferiu ser mais obscuro, isso até ter descoberto a fé cristã no fim dos anos 70 e lançar uma série de álbuns de pura pregação. Al Green por sua vez começou no gospel e mesmo ao gravar pop sempre cantou como se estivesse em uma igreja.Lembramos também uma banda como o U2 que sempre gostou de abordar e questionar a religião e como ela está presente em nossas vidas e finalmente os Beach Boys que conseguiram falar ao espírito de forma sublime mesmo que essa não tenha sido necessariamente o objetivo original do grupo.

Pet Sounds - The Beach Boys - 1966 - A história já é sabida: cansado da imagem que a banda tinha de bons moços, o líder Brian Wilson quis fazer um disco melhor que "Rubber Soul" dos Beatles e terminou com o que para muito é o melhor disco de rock já feito. O que talvez poucos tenhma notado é que o maior trunfo de "Pet Sounds" é o de ser um disco capaz amplificar os bons momentos e aliviar os maus (ele é ótimo para se ouvir a dois e melhor ainda para curtir uma fossa). Logo, se o natal nos convida a ficar com o espírito mais elevado essa é uma das melhores opções. Como o dia é de festa, ams também de reflexão, as canções melancólicas e belas do álbum funcionam perfeitamente. Curiosidade, o hit , God Only Knows foi uma das primeiras canções populares a usar a palavra Deus (god) em seu título.

Exodus - Bob Marley & The Wailers - 1977 - Que Bob Marley foi provavelmente o mais espiritualizado entre os popstars não se discute. Afinal estamos falando de um homem que literalmente morreu por sua fé (ele recusou ter seu dedo do pé amputado para evitar que o câncer se espalhasse pelo resto do corpo). Mas Marley não escrevia apenas hinos religiosos, longe disso. Que o digam as inúmeras canções de protesto e outras tantas de amor que nos legou. "Exodus" é o disco mais espiritualizado do músico e, provavelmente o único onde o músico está em paz consigo e com o mundo. Daqui saíram hinos de união como One Love / People Get Ready e aquela que é a melhor canção pra se ouvir em momentos de dificuldade Three Little Birds, afinal se Marley pede para não nos preocuparmos que tudo vai ficar bem ele deve saber o que está falando né?

Slow Train Coming - Bob Dylan - 1979 - Dylan é figura constante em nossos especiais, mas o que podemos fazer se ele esteve presente em inúmeros momentos da música pop? "Slow Train" vendeu bastante e até deu um inédito Grammy para o cantor (por Gotta Serve Somebody) ao mesmo tempo ele deixou os fãs arrepiados, afinal o que um dos mais famosos judeus do mundo estava fazendo ao cantar essas loas para Jesus Cristo? E que som era esse calcado no r&b? No fim dos anos 70 o cantor se converteu a fé cristã e quis deixar isso bem claro. Esse foi o primeiro álbum de uma trilogia e é seguramente o melhor dos três. Apesar de exagerar nas pregações (John Lennon ficou irritado) o disco é bem escrito, tocado (Mark Knoffler dos Dire Straits toca guitarra) e principalmente sincero.

The Joshua Tree - U2 - 1987 - As preocupações espirituais semrpe estiveram presentes nos discos da banda. Houve um tempo em que eles pensaram seriamente em desistir da carreira musical para abraçar apenas a fé católica. Isso foi na época do segundo disco "October" seguramente o mais "religioso" do grupo. Aos poucos aprenderam a conviver em harmonia com esses dois lados aparentemente excludentes. Ajudou para isso a chegada do produtor Brian Eno em "The unforgettable Fire" de 1984 que sabiamente disse para Bono que se a música fosse forte o bastante a mensagem seria melhor compreendida."The Joshua Tree" mostra que eles entenderam o recado em um disco que dosa espiritualidade, política e amor com habilidade. Curiosidade: esse foi o disco "secular" melhor colocado num livro sobre os clássicos da música cristã.

Greatest Hits -Al Green - 1975 - A soul music está cheia de histórias assim: jovem cantor de gospel acaba seduzido pela música do "diabo" e se vê em uma encruzilhada. O resultado final geralmente dá em uma música carnal com fortes contornos espirituais. Com Al Green especialmente é assim. Ao se juntar ao produtor Willie Mitchell ele criou alguns dos mais belos e sensuais momentos do pop. Um belo dia em 1974 o cantor levou uma panela com comida fervente de uma amante ciumenta que logo em seguida se matou. Cinco anos depois ele se machucou seriamente em cima do palco. Interpretando o fato como um chamado, AL Green largou a música pop, se tornou pastor e passou a só gravar gospel. No fim dos anos 80 ele aos poucos voltou a cantar música soul. Hoje ele consegue equilibrar corpo e espírito magistralmente como confirmam seus últimos cds.