Uma tarde sentei na varanda
Meu passado cheguei recordar
Lá do tempo em que eu era menino
Quando ia para escola estudar
Neste filme rodando na mente
Vi distante a velha casinha
E a cerca de arame farpado
Na divisa da velha vendinha
Lá embaixo beirando o varjão
Vi a trilha que ia ao roçado
E um toco de jacarandá
Que por um machado foi tombado
Vi também lá no alto da serra
O vermelho do Sol poente
E a coruja na boca da noite
A voar assustada com a gente
Vi papai fazendo um palheiro
Caprichado de fumo de corda
Enrolando na palha de milho
E lambendo em uma das bordas
Em seguida acendia o palheiro
Com fogo riscado da binga binga
Baforava o cigarro ouvindo
A perdiz cantando na restinga
Também vi o cachorro malhado
Num buraco acuando um tatu
E a vez que ele me livrou
De um bote da cobra urutu
E os pássaros em nosso pomar
Saboreando as frutas maduras
E a Lua escoltada de estrelas
Clareando as noites escuras
E ouvi o meu mano cantando
E tocando o seu violĂŁo
Uma moda bonita caipira
Que alegrava o meu coração
Também vi a ciranda de luz
Alternadas pelos pirilampos
E senti o cheiro do perfume
Das florzinhas nativas do campo
Vi mamãe lá no forno de lenha
Preparando nosso pĂŁo caseiro
Que até hoje eu ainda sinto
Ele quente exalando o seu cheiro
De repente eu me despertei
Com a sirene de uma ambulância
NĂŁo contive chorei de saudades
Dos bons tempos da minha infância