Elomar
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O Auto da Catingueira

Elomar


Senhores dono da casa
O cantadô pede licença
Pra puxá a viola rasa
Aqui na vossa presença
Pras coisa qui vô cantano
Assunta imploro atenção
Iãntes porém eu peço
A Nosso Sinhô a benção
Iãntes porém eu peço
A Nosso Sinhô a benção
Pois sem Ele a idéa é mensa pru cantá
E pru tocá é pensa a mão
Pra todos qui istão me /ô/ovino
Istendo a invocação
Sinhô me seja valido
Inquanto eu tivé cantano
Pra qui no tempo currido (bis)
Cumprido tenha a missão...
Foi lá nas banda do Brejo
Muito bem longe daqui
Qui essas coisa se deu
Num tempo qui num vivi
Nas terra qui meu avô
Herdô de meu bisavô e o pai seu
Dindinha contô cuan?meu avô morreu
Minha avó contô cuan?meu avô morreu
E hoje eu canto para os filhos meus
E eles amanhã para os filhinhos seus...
Nessa terra há muitos anos
Viveu um rico sinhô
Dono de um grande fecho
Zé Crau cantô mais Alexo
Honras viva de sua mesa
três son Sarafin
três son Balancesa
três son Sarafin
três son Balancesa
Suas posse era tanta
Qui se a memora num erra
Vi dizê que ele tinha
Mais de cem minreis de terra ai
Nos tempo desse sinhô
Dindinha contô pra mim
Viveu Dassanta a fulô
Filha de um tal cantadô
Anjos Alvo Sinhorin
Dele o qui pude apurá
Foi o relato d?um vaquero
Neto de um marruero/ê/
Matadô de marruá
Qui era companhero seu
No Campo do Sete Istrelo
No Campo do Sete Istrelo
Malunga e violero
Ranca-toco de ribada
Séro distimido e ordero
Num gostava de zuada
Rematô o velho na fera/ê/
Manso passô a vida intera/ê/
Mais morreu sem temê nada ai

I CANTO
Da Catingueira

E
la nasceu na laje do Gavião
Numa quadra escura de Janeiro
Numa noite de chuva e de truvão
E no mei do mais grande aguacero
Batizou-se na vila do Poção
Na igreja do santo padroeiro
Numa quadra escura de Janeiro
Nasceu Dassanta do Gavião.
Numa noite de relampo e truvão
Resolveram fazê o sacramento
Seu pai com ela e o facho na mão
Sua mãe montada no jumento
Sairam no mei da escuridão
Sofreram mas com muito contentamento
Numa quadra escura de Janeiro
No mei do mais grande aguacero
Resolveram fazê o sacramento.
Depois que a manhã era chegada
Eles também chegaram no lugar
A menina tava toda molhada
Levaram entonce pra batizá
E logo adispois do sacramento
Seu pai foi percurar o iscrivão
Pra poder fazê o assentamento
Da era ela na lei do Poção
O cujo foi quem falou primeiro
Vai te custar cinco milerréis
Apois o pai dela era um vaqueiro
Que não ganhava nem um dérréis
E o pouquin que sua mãe levou
O vigário abocou os vis réis
Pegaram então a boca da estrada
Uns escampo cheio de vento
Dassanta recebeu o sacramento
Mas nunca teve a era assentada.

Conta as pessoa mais velha que
Dassanta era bonita que metia medo
Tinha nos olho a febre matadera
Que matava mais que cobra de lajedo
Os pé pequeno e os cabelo cumprido
Embaixo do vestido um manto de segredo
Apois seu pai era um pobre vaqueiro
Ficou cego bem moço quando tinha um pé ligeiro
Um corpo maneiro e um roupante grosso
Nasceu e se criou no sei da caatinga
Na terra seca de nosso sinhô
Onde nem todo ano a planta vinga
Foi Deus que um dia assim determinou
Ai nesse chão onde o cristão xinga
Nem o cangaceiro lá nunca pisou
Lá de vez em quando um jagunça pinga
Vindo das bandas do mato cipó
As relegião queu canto, as mendingas,
Canta que Jesus nela passou
Quando o rei das treva e da mandinga
Pirseguia o principe salvador
Pagando os rastro dele na caatinga
E as pombinha fogo-pagou
Ai nessa terra que é véa e que é menina
Onde as zubrina nunca lá chegou
A siriema brava da campina
No sei da caatinga nasceu e se criou
Mais o pió qui era sua buniteza
Virô u'a besta fera naquelas redondeza
In todas brincadêra adonde ela chegava
As mulé dançadêra assombrada ficava
Já pois dela nas fêra os cantadô dizia
Qui a dô e as aligria na sombra dela andava
E adonde ela tivesse a véa da foice istava
A véa da foice istava
In todas as brincadêra adonde ela ia
Iantes dela chegava na frente as aligria
Dispois só se uvia era o trincá dos ferro
As mãe soutano uns berro chorano mal dizia
E triste no ôtro dia era só chôro e intêrro
Chôro e intêrro (bis)
Dassanta era bunita qui inté fazia horrô
No sertão prú via dela muito sangue derramô
Conta os antigos quela dispois da morte virô
Passú das asa marela jáçanã pomba fulô
Fulô rôxa do panela só lá tem essa fulô
Dispois da morte virô pássu japiassoca assú... (bis)

II CANTO
Dos Labutos

L
agoa de Tinquijada
pasto das cabra lijêra
siguino os rebãin donde vai
no pôço da catinguêra
bem longe da casa dos pai
Dassanta burrêga marrã
passava vigiano os rebãin
de seu sinhô todas manhã
e tomém as tarde intêra...
Se alevantava cuns aruvai
curria pru chiquêro abria a portêra
se ajuelhava pidia bença ao pai
panhava o café o assuca e a
chiculatêra
botava água na cumbuca
e o balaizim de custura
dispindurava na cintura
e rumpia facêra boian boian
chiquê chiquê minhas cabrinha
lambancêra
e as vêis ela se alembrava
das moda qui seu pai cantava
e ôtras qui aprendeu nas fêra
e cuan a sêca chegava
as cabra ia prus fêcho
qui ficava reservado
e a mucama assim dexava
de piligriná nos êxos
e vagá pelos serrado
seu pai lhe ricumendava
vai nos pano tira uns lãin
pega maiado e martelo (animais
de serviço)
junta os trem cum tua mãe
ela no casco eu in pêlo
num carece tomá bãin
basta ajeitá os cabelo
junta a traia sinhazinha
ferramenta côcho e prancha
albarda os casco in martelo
se o Sinhô fô pirmitido
inda hoje nois arrancha
no pôso do Sete Istrêlo

Foi lá qui nua dismancha
qui ela cunheceu um tropêro
moço e muito viajado
nas istrada do sertão
qui ali chegô cansado
nua bespa de São Juão
Dispois de tê arranchado
e agasaiado a tropa
foi no ôi d'água tomô um bãin
e logo trocô de rôpa
calçô um pá de butim
novo e muito riluzente
botô no bolso um jasmim
um lenço branco e um pente
e preparado assim
tava qui mitia mêdo
fermoso feito um gaiêro
xotano in noite de lua
pelos alto dos lajêdo
infestano as mão sua
tinha cinco anel nos dêdo...

Já a foguêra tava acesa
todo mundo no terrêro
festejava São Juão
foi cuan intrô o tropêro
feito um prinspe feiticêro
foi aquele quilarão
o danado foi riscano
no terrêro feito um rai
Dassanta junto dos pai
prele foi se paxonano
pois o turuna pachola
qui tinha pauta cum Cão
mais pió qui ua pistola
qui tinguin febre ispanhola
chegô cua viola na mão
uns conta quêles casô
ôtros qui se imbrechô
ôtros qui se ajuntô
já ôtros qui num casô não.



III CANTO
Das Visage e Latumia

H
ê
sina cigana
vida de onça vida tirana
é essa só de andança
e de vivê prissiguino
a criação m?uça iê...
Êh... gado miúdo
pastora piligrina
nas quebrada vô
guardano as cabra de meu pai e s?ô
aspena inconto as babuja secá
novas de mai pispei de j?in se Deus quisé
vida mais danada inda tô pra vê
pelas parambêra desses socobó
vai m?a vida intera já murcha na fulô
cuma se eu tivesse penas a pagá
pra sê prisionera nesse caritó
ê vida tirana essa de pastorá
cabra repartida sirigada iê
volta cá zulêga dexa de atentá
num vê qui m?a sina é só de padicê
ê vida tirana só de pelejá
E assim se vai meus dia tardes e mia
disperdiçado nesse labutá
disapartada de m?as irirmã
sem o carin dos otros irirmão menó
vida mais danada inda tô pra vê
lá do Sete Istrelo pra istrela maió
prigunto pru ele qui tomém tão só
assim cuma eu no mundo a percurá
véve gavabundo sem nóis se incontá
ah vida tirana tu ina vai mudá
dos cupim da serra chamo pru meu amô
lá das otras banda oco resposta
pru que essa delata quinda num chegô
na vida tirana só faço isperá



S
errado de gado brabo
nuves da cor de guede
cás boca d?istambo imbruiada
barrão de fogo alevantado
Pé-seco e os anjo na rede
armada na incruzilhada
sete anjin morto de sede
horas morta madrugada
tatú-peba cumeu as mágua
qui chorô na mamona do oro
pelos banco da meágua
as alma de Chico Bizoro
inhambado in pat?oba
vistiu cum gibão dos coro
das anca da besta-boba
e cuspiu fogo dos olho
Uriinha do São Juaquim
Lubizome e Boa-Tarde
malungo cum Mão-Pelada
in sete légua de camin
e véve a fazê latumia
pra quem é de compra medo
num arroto nem peço segredo
tomém num é pur subirbia
Apois eu vi isturdia
lá na Lagoa Fermosa
me rupia o corpo inteiro
eu te arrenego arma pantariosa
eu te arrenego e arrequêro
apois sim pois bem fui campiá
muito dispois das ave-maria
?as cabra veaca qui todo dia
iscapulia pras banda de lá
foi cuan eu vi na bera da aguada
um bando abolco de alma penada
inquanto ?as midia otras custurava
dum lado ?as gimia já otras chorava
rismungan qui era os peso e midida
os retai dos pan qui cuan in vida
tomava pra cuzê e cum o alei ficava
Nas minha andança dent dos serrado
já vi coisa do invisive e do malassobrado
coisas de fazê arripiá os cabelo
minha mãe me insinô
qui o dismazel
a sujera e o dismantel
tombém é pecado
contô qui há muito na Lagoa Torta
morava ?a mulé, falo in vida da morta
dismantelada dos pé té os cabelo
cuns dente marelo e os vistido rasgado
varria a casa catano os farelo
té a cachuera ispindurô pendente
presa na pedra sem caí no vão
tudo in memora da hora inselente
qui hai toda noite derna criação
Nas minha andança dent dos serrado
já via coisa do invisuve e do malassobrado
Oras viva e arriviva
gorda e forra a Fragazona
in pinicado de Sanazo
cum as tinha qui do calunga
na quadra da pedra uma
na toca do Lubião
nas loa do sapo-sunga
in pinicado de Sansão
imprecavejo muit? inconive
já vi coisa do invisive
visage e latumia
pantumia e parição
de quem tá morto e quem vive
istripulia de Rumão
e adispois amuntuava o cisco dum lado
?a certa noite essa mulé
qui é morta
foi jogá o cisco
cuan abriu a porta
deu cum bich qui ach
qui era o Cão
apois trazia ?a pá de lixo
e um ferrão na mão
naquela hora nada lhe valeu
só teve tempo de soltá um grito
valei-me São Binidito
tremeu feiz um fiasco
cai baten os casco
bateu no chão e morreu
Nas minha andança
dent dos serrado
já via coisa do invisuve e do malassobrado
D?a certa feita lá no Ventadô
adonde o vento foi fazê a volta e num voltô
assucedeu qui o sol me logrô
e eu tive qui drumi
donde o rebãin maiô
pela mea noite alevantei da rede
turduada c?a sede
qui quaje me mato
fui bebê água perto na aguada
ia mais discunfiada qui bode pastô
cuano cheguei perto
foi qui dei pur fé
fiquei toda ripiada da cabeça aos pé
apois lá dibaixo do imbuzero do miau
topei Chico Niculau
mais Manezim Serradô
Eu vi Naninha sentada
pidino ismola
cujos difunto nas viola
cantava uns canto de horrô
voltei corren olhan prá traiz e benzeno
cuan cheguei é qui fui vê
qui minha sede passô
Nas minha andança dento dos serrado
já vi coisa do invisive e do malassobrado
Cuano os cristão reposa
cuando drome os crente
iantes d?alevantá das cova
os ser osente
as coisa toda morna in preparação
pru sono curto qui dura um repente
toda mea noite na hora inselente
do tempo e o vento e toda criação
já vi ?a noite apois ela num mente
parô os ramo as fôia no capão
cigarra grilo cururu rodão
cobra jibóia cascavé serepente
lambú três-pote mãe-da-lua cancão
tatú mucüin toda alma vivente.
Até a cachoeira espindurou pendente
Presa na pedra sem cair no vão
tudo em memória da hora inselente
que hai toda noite desda criação
nas minha andança dentro do cerrado
já vi coisa do invisive e do malassombrado
horas viva e arreviva
gorda e forra a sagra foma
pinincando de sansão
na quara da pedrauna
na toca do lambião
nas loas do sapo sunga
impinincado de sansão
imprecavejo muito inconive
já vi coisa do invisive
visage e latumia
batumia e parição
de quem tá morto e quem vive
estripulia de rumão.

IV CANTO
Dos Pedidos

J
á que tu vai lá pra feira
traga de lá para mim
Água da fulô que cheira,
Um novelo e um carrim
Traz um pacote de miss
Meu amigo Ah! Se tu visse
Aquele cego cantador
Um dia ele me disse
Jogando um mote de amor
Que eu havera de viver
Por este mundo e morrer
Ainda em flor
Passa naquela barraca
Daquela mulé resera
Onde almoçamo paca,
Panelada e frigideira
Inté você disse uma loa
Gabando a bóia boa
Das casas da cidade
Aquela era a primeira
Traz pra mim umas brevidades
Que eu quero matar a saudade
Faz tempo que eu fui na feira
Ai saudade...
Ah! Pois sim, vê se não esquece
D'inda nessa lua cheia
Nós vai brincar na quermesse
Lá no riacho d'areia
Na casa daquele homem,
Feiticeiro curador
O dia inteiro é homem
Filho de Nosso Senhor
Mas dispois da meia noite
É lobisomem comedor
Dos pagão que as mãe esqueceu
Do Batismo salvador
E tem mais dois garrafão
Com dois canguim responsador
Ah! Pois sim vê se não esquece
De trazê ruge e carmim
Ah! Se o dinheiro desse
Eu queria um trancelim
E mais três metros de chita
Que é pra eu fazê um vestido
E ficar bem mais bonita
Que Madô de Juca Dido,
Zefa de Nhô Joaquim
Já que tu vai lá pra feira
Meu amigo, tras essas coisinhas
Para mim

V CANTO
Das Violas da Morte

A
i clariô, ai ai clariô
Ai clariô, ai ai clariô
Ai clariô, ai ai clariô
Purriba do lagêdo o luá chegô
já cá na Cabicêra a função pispiô
amiã cedo a lua já entrô
eu vô passá a noite intêra
cantano clariô
e eu qui vim só
só pra vê meu amô
sei que vô ficá só
pois ela num chegô
Ai clariô, ai ai clariô
Ai clariô, ai ai clariô
Ai clariô, ai ai clariô
As baronêsa já abriu as fulô
nos catre e nas marquêsa as figura sentô
a pé de bode abriu asa e cantô
nas baxa e nas verêda seu canto raiô
e eu qui vim só
só pra vê meu amô
sei que vô ficá só
pois ela num chego
Ai clariô, ai ai clariô
Ai clariô, ai ai clariô..
Sinhores dono da casa
o cantadô pede licença
prá puxá a viola rasa
aqui na vossa presença.
venho da banda do Norte
cum pirmissão da sentença
cumprino mia sina forte
já por muitos cunhicida
buscano a inlusão da vida
ou os cutelo da morte
e das duas a prifirida
a qui mim mandá a sorte.
Já qui nunciei quem sô
dêxo meu convite feito
pra qualqué dos cantadô
do qui se dá pur respeito
aqui qui pru acaso teja
nessa função de aligria
e prá qui todos me veja
pucho alto a cantoria
nessa viola de peleja
qui quano num mata aleja
cantadô de arrilia
só na iscada dua igreja
labutei cua duza um dia
cinco morrêro d'inveja
três de avêcho, um de agunia
matei os bichos cum mote
qui já me deu três muié
é a história dum cassote
cum cuati e cum saqué
o cassote com um pote
cuô pru cuati um café
iantes ofreceu um lote
num saco prá o saqué
o saqué secô o pote
dexô o cuati só cua fé
de qui dent do tal pote
inda tinha algum café
e xispô sambano um xote
o inxavido do saqué
qui cuati quá qui cassote
boto o bicho e bato um bote
o qui é qui o saqué qué
iantes porém aviso
sô malvado num aliso
triste ô feliz é o cantadô
queu apanhá prá dá o castigo
apois quem canta cumigo
sai difunto ô sai dotô.
Sinhô cantadô chegante
me adisculpa o tratamento
nessa hora nesse instante
mêrmo aqui nesse momento
tá um cantô sinificante
sem fama sem atrivimento
qui num é muit falante
nem de muit cunhicimento
mais prá titos e valintia
só trais ua viola na mão
falta o iluste cumpanhêro
marcá o lugá da prufia
se lá fora no terrêro
ô aqui mêrmo no salão.
Vamo logo mão a obra
Dexa as bestage de lado
Qua lua já fez manobra
No seu canto alumiado
Vosmecê que sois daqui
Vai deixano espilicado
As moda dos cantori
Que lhe é mais agradado
Se vamo cantar o moirão
O martelo ou a tirana
Ou a ligeira sussarana
Parcela de mutirão
Ou entonce ao invés
A obra de nove pés
De oito sete ou seis
Ou se dez pés em quadrão
Vamo logo mão a obra
Dexa essas coisas de lado
Vamo cantar no salão
tô mais riuna que a cobra
Que traz no rabo encravado
O envenenado ferrão.

Apois sim tá certo vamo
Cantar qualquer cantoria.
No me deito nem me acamo
Pra arrotar sabedoria.
Vamo cantar meu amigo
As moda que for chegando
Não corremo assim perigo
De tá sempre expilicando
Presse povo que eu firmo
Educado escutano.
Apois pra entender parcela
Martelo ou coco tirano,
Tem que bater mil cancela
Na estrada do desengano
E inda por riba tem
Que saber sofrer esperar
Mesmo sabendo que num vem
As coisa do seu sonhar.
Na estrada do desengano
Andei de noite e de dia,
Apois sim tá certo vamo
Cantar qualquer cantoria.
Apois sim tá certo vamo
Cantar qualquer cantoria.

Na estrada dos desengano
Cantei de noite e de dia
Inludido percurando
Aprender o que não sabia
Quando eu era moço um dia
Risulvi sai andano
Pula estrada da aligria
Aligria percurando
Curri doido atrás dela
Entrou ano saiu ano
Bati mais de mil cancela
Na estrada dos desengano.
Bati mais de mil cancela
Na estrada dos desengano.

Pispiêmo c?um moirão
Na obra dos sete pés
Voismicê me diz então
O assunto de u?a vez
Num tem preferênça não,
Só quero dá nesse salão
U?a dimonstra pra ocêis

Fí do mermo pai é irmão,
Povo que fica é indêz
O que o homi junta c?as mão
A mulé ispáia c?os pé
Te agaranto com certeza
Qui a maió das bunitêza
Foi a noite do santo reis

Na noite de santo reis
Inté os bixim cumpariceu
Junto c?os patoris fiéis
Prá lová o fí-de-Deus
Os rei mágo era trêis,
Os gálo cantô trêis veiz,
Hovi trêis festa no céu

O colega umbucadim
Vai se dá por agradado
De tá ceno horrado assim
Cantano cum gente letrado
È bundade cumpanhêro,
Sô aprendiz de violêro,
Voismicê lutou formado

Dexemo de lado tanta curtisia
Já é um bem parado de vê todo dia
Catá cumpanhado na minha armadia
É quão condenado pescoço ao cutelo
Segura o martelo que?eu sô ventania

Cantado que?eu invejo é o ferrêro e as gía
Qui à noite nos bréjo canta alto e de dia
Aprendeu nos andejo inquanto drumia
Seus óio inderejo parado fazia
Isso é que?eu invejo, viu seu ventania
Isso é que?eu invejo, viu seu ventania
Mim dê a ispilicação d?um sonho qui tive acordado
Tava o tempo assim parado na maió comodação
De repente um istralado, vêi um rai e um truvão
Chuveu fôgo e azeite quente, curria po todo chão
Pela terra toda gente na maió das aflição.

Os tempo já tão chegado meu ilustre cantadô
Veja no livro sagrado em São luca 21
Adonde tá assuntado tudo que o mestre falô
Sobre as éra derradêra, peste, fome, guerra e dô
Aflição na terra intêra foi qui voismicê sonho.

Tano atráis dessa vióla sô um muro intranspuníve
Quano puxo da cachola boto o mundo torto in níve
Planto taba nasce bola, faço inté os impussíve
Maio ferro, faço sola, só quem tá morto num vive
Tano atráz dessa vióla sô um muro intranpuníve.

O maió de todos muro foi o muro de jericó
Auto, largo,firme e duro, paricia u?a pedra só
Mas pela órdi secreta do sinhô de toda terra
Os soldado c?as trumbêtá tocaro um tóco de guerra
E o muraum caiu po terra, só ficô munturo e pó.

Todo cantadô errante
trais nos peito u'a marzela
nas alma luá minguante
istrada e som de cancela
fonte que ficô distante
qui matava a sêde dela
e o coraçào mais discrente
dos amô da cantiguêra
ai o amô é u'a serepente
êsse bicho morde a gente
vamo pois cantá parcela?
daindá, daindá, daindá, daindá
Eu sô candadô de côco
eu num canto parcela
parcela é feiticêra
eu côrro as leguas dela! ai, ai, ai, ai
chegano num lugá
adonde têjá ela
eu vô me adiscupano
e dano nas canela! daindá daindá daindá daindá
conhecí um candadô
distimido e valente
que mangava dos amô
e zombava a fé dos crente
mais um dia ele topô
nos batente d?ua jinela
cum o bicho do amô
mucama pomba e donzela
e o catadô aos pôco
foi se paxonano pruela
té qui um dia ficô lôco
de tanto cantá parcela
e hoje vêve pela istrada
rismungano que a culpada
foi a mucama da jinela
daindá daindá daindá daindá
eu sô cantadô de côco
apois quem canta parcela
corre o risco São Francisco
morrê doido cantan'dela
daindá daindá daindá daindá.
O colega cumpanhêro
Inté qui sabe cantá
Quero num voltado intêro
O qui lhe vô priguntá

Num é coisa do meu agrado
Cantá a priguntação
Se já lhe tem respostado
Peço por inducação
Sempre qui sô cunvidado
Lembro certa ocasião
Na serra do corta lote
Em casa de inhô Zé leite
Jão guelê largava um móte
Fazeno a priguntação
Quantas pena tem a
A três pote quantos tem o tinho o pente
Do canguin pente algodão
Num meio de tanta gente
Num houve u?a só respostação
Nesse instante, de repente,
Na porta grande da crente
Batero palma c?a mão
Zé Leite acudiu primêro
Sem dá pro qui cavalêro
Já tinha intrado no salão

Foi um sirviço mal feito
Foi um alarme um bagacêro!
Arrancô-se o povo intêro
Lenvano tudo nos peito,
Conta qui o sanfonêro
Qui vêi prá fazê o forró...
Foi quem arrancô primêro
Na frente curria só
C?a sanfona inganchada
No butaum do palitó
E em cadá curvá da istrada,
A riúna malasombrada
Tocava u?a nota só
E o turuna mais corria
Já sem foligo ele pidia,
Ai tem dó de mim seu cão
É qui o homi tinha o pé redondo
E tali com?um marimbondo,
Tinha no rabo um ferrão
O colega diversáro
Num tem o canto apurado
Se cantá cinco saláro
A muito quero afinado
E pra acabá essa brincadêra
Qui já me dêxa injuado
Me diga num fim de fêra,
Qual dos trêis trem mais falado
E os assunto siguinte
Vai dexano ispilicado
Qual o seu nome purintêro
Adondi foi batizado
Num isqueceno cumpanhêro
De dizê cidade e istado
Nome dos pai e dos avó,
Si é soltêro ou sé casado
Por outra se véve só
Ou se véve acumpanhado
Agora feito um feitiço
tá o meu colega imbruiado
Apois quero tudo isso
Num só todo respostado
São três coisas custumêra
Qui muito si tem falado
No arrematá das fêra:
Cachaça, fumo e fiado
E si não ando inganado,
Me chamo o chico da chága
Lago do jongo do brocado,
Poralí naquelas quadra
No distrito de brumado no alto sertão da bahia
Adondi fui batizado po meu pai Jão Malaquía
Minha mãe chama Isidóra, meus avó: Donato e Lia
E essa aqui do meu lado, esse é minha cumpanhêra
Minha vida, é meu bucado, minha viola gemedêra
Japi açóca do brejo, minha sina é a perdedêra
Derna qui viero eu vejo, qui andano ...
Violêro é o mal sinar, vô morreno ávida intera
Acho quijá tá na hora
de fazer a louvação
do sinhô e da sinhora
que si incontra no salão
também os que lá de fora
nos assunta cum atenção
os dono da casa eu louvo
nessa louvação primeira
no dia do casamento
acudido todo povo
um grande contentamento
o povo da terra inteira.
a noiva com seu vestido
costurado e sem imenda
sem costura foi ticido
por seres cheios de prenda
aranhinha deu fi cumprido
caipora teceu a renda
no dia do casamento
vei gente de todo o lado
só não veio a viola minha
purque não anda sozinha
nem o rei nem a rainha
purque num foi convidado.
Num sei cantá lovação pra outra qui num sejela
Quando vô na iscuridão me guiado às istrela
Minha istrada é o quilarão, me alumia é os óio dela
Num sei cantá lovação pra outra qui num sejela
Prumode ela num sê cão, no ritu do coração
Sem corda sem craviéla, geme as viola e os violão
Geme os batê das concela, nas baxada e os chapadão
Geme os vento nas pacela de noite nos casarão
Geme as portas e jinela
Num sei cantá lovação pra outra qui num sejela
Óia lá seu cantadô
ocê quano fala nela
fala cum mode e cum jeito
Apois a febre do amô
Quela riuna sinrroscô
Bem cá dentro de meus peito
E adispois qui entrô virô
Pé duro turuna, cascavé craúna
Qui se ofende ô mata ô cega
Ô dexa o cabra cum defeito
Hoje aqui nessa função
Eu tô pressintino o chêro
De sangue, morte e de dô
Eu dei pôca ligação
Pensei qui era abusano
O qui minha mãe falô
Minin?essa noite intêra
Ela sonho qui brincava
Numa função na cabicêra
Qui fazia gosto impé
Intoce quano acordei
Vi moiado o cabicêro
Apois te vi acuado
Num canto de terrêro
Trançado cum violêro
Facão, viola e muié
Apois sim facão, viola e muié
Muié, viola e facão, como quêra
São três coisa em qui minha vida intêra
Sempre fôro a minha perdição
Quano um dia mi intindi po gente
Mim ajueei, pidi a meu pai benção
Minha irmã chorano, minha mãe duênte
Disse num arrobo qui cortava a gente
Vai mininu im busca da ilusão
Mais num ti isqueça de nosso senhô
Ti apega àquele nas hora de aflição
Mais hoje qui vivo a rolá no mundo
Sem mãe, sem pai, tali como um vagabundo
Já nem sei mais o qui minhas?alma qué
Pra quem viveu penano a vida intêra
Tanto faiz morrê numa boca de fêra
Cum?acuado num canto de um terrêro
Trançado cum violêro, facão, viola e mulé
Essa aqui no meu lado
Essa é minha cumpanhêra
Meus dia já tão contado
Canto um cego na fêra
Dê cá meu faco afiado
Pois nuca fui dispeitado
Na vida dessa manêra
E antes do dia raiado
Eu já tenho isprimentado
Se minha sina é a perdedêra
Veja o que vier eu vejo
Vô morrendo a vida intera
Seja cum?ocê quisé
Cumigo niguém agüenta
Mete a mão na ferramenta
Nos camim do canindé
Dois cego nu?a trumenta
Pelejava andano a pé
Um cegado de pimenta
Outro de olhos de mulé
Cumigo ninguém agüenta
Soldade do canindé
Mulé bunita e pimenta
A morte prus olhos é
A morte prus olhos é( bis)
Vindo das banda do norte
No rastro do cantadô
O anjo branco da morte
Chegô, subiu e sentô
Pro riba de minha sorte
.. sorte de cantadô
Vindo das banda do norte,Chego
Essa noite antes d?aurora
Dispois qui os galo cantá
O sonhe qui mãe Isidora sonhô
Valei-me nossa sinhora
Sinhora mãe do sinhô
Essa noite, antes d?aurora, eu vô
Crusei camim de caipóra
Nessa arribada do amô
Essa noite, antes d?aurora, eu vô
E hoje qui minha viola chora
De um jeito qui nunca chorô
Essa noite, antes d?aurora, eu vô, daindá, daindá,
daindá
Meu amigo e cumpanhêro
Cum lincença de micê
Um pidido derradêro
Assunta o qui vô dizê
Nos campo do sete istrêlo
Ficô tanto bem querê
Nos campo do sete istrêlo
Ficô tanto bem querê, daindá, daindá, daindá
Dexemo lá três bixim
druminu nas inucênça
Inté mei disprivinidu
De pano e subrivivênça
Dêxa de cabeça dura
Pra que guarda pinião
Pula cruiz da siputura
Qui finquêmo onti no chão
Puraquela nossa jura
Que fizemo criança
Resguardo de paridura
Guardamento de criança
Inda tenho a isperança
De te vê rico e bastado
Óia o céu, tá carregado
Acho que ronco truvão
Tanta coisa pr?eu fazê
O roçado tá aberto
O teiado discuberto

Violêro tem clemênça
Ficô vazio suano
Veno a panela no fôgo
Inté a chave da dizpênça
Veio no teu currião, daindá, daindá, daindá.
Se v?mcê num ovi meus rógo
três canto de incelença
Torduô meu coração, daindá, daindá, daindá
Pra qui tanta disavênça
Nessa função tão descente
Violêro pare pensa
Só um bucadim na gente
Viola cum violênça
É plantá na terra quente
De minhã ispáia a semente
De noite cói u?a incelença, daindá, daindá, daindá
Nos campo do sete istrêlo
Ficô tanto bem querê
Nos campo do sete istrêlo
Ficô tanto bem querê, daindá, daindá, daindá
(tropêro)
Num tem jeito é minha sina
É sina de cantado
Ôvi os galo da campina cantô

(cantadô)
Solta a viola violêro
Malunga e cantadô
Puxa fita pro terrêro, já vô

(tropêro)
Crusei camim de caipóra
Nessa arribada do amô

(cantadô)
Num tem jeito minha hora chego!!!

Ai clariô, ai ai clariô
Ai clariô, ai ai clariô
Ai clariô, ai ai clariô...
Minha vó contô quano meu avô morreu
Dindinha contô quano vovô morreu
Qui foi triste aquela função lá na cabicêra
Qui dassanta, a burrega marrã
Foi incontrada num canto do terrêro
Junto c?uns violêro mortos naquela manhã.

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