Um era um taura e se perdeu por taura
Outro era maula e se perdeu por maula
Quebras demais para viver em jaula
Com muita raça pra esconder a cara
Dois irmĂŁos gĂȘmeos um igual ao outro
De olhares gĂȘmeos com fulgor de auroras
Mais parecidos que um par de esporas
Num par de botas de garrĂŁo de potro
O pai um tigre que a branquear ficara
Entre ossamentas num tendal de guerra
A mĂŁe chirua com sabor de terra
O lar um rancho santa-fé e taquara
Um era maula mesmo sendo taura
Outro era taura mas nĂŁo era maula
Mas nĂŁo nasceram pra viver em jaula
E nem tampouco pra esconder a cara
Por isso um dia, quando o comissĂĄrio
Chegou no rancho pra prender o maula
Achou dois tigres numa mesma jaula
Junto Ă mĂŁe velha, deusa do santuĂĄrio
Saltaram fora pra livrar das balas
A mĂŁe querida que os amamentara
Caiu ferido junto Ă porta o taura
Caiu jĂĄ morto logo adiante o maula
De toda a parte vinham fogonaços
E os dois ficaram mais iguais na morte
Pois mesmo tigres pra enfrentar a sorte
Não tinham breves pra atacar balaços
Do par de tauras que tombou na luta
Restou somente sem fulgor de auroras
Mais parecidas do que um par de esporas
Um par de cruzes de madeira bruta
Por isso Ă noite nunca faltam luzes
Defronte ao rancho onde a saudade habita
Ă a mĂŁe dos gĂȘmeos que ficou solita
E acende velas pra velar as cruzes!