Eu voltava do trabalho
Um dia de tardezinha
E parei pra descansar
Lá no banco da pracinha
Fiquei lá observando
O vai e vem das andorinhas
Quando veio aproximando
Uma criança sozinha
Desconfiado me olhando
Calculei uns nove anos
Pra idade que ele tinha
Era um garoto carente
Lhe convidei pra sentar
Ele sentou no meu lado
E começou me contar
Vivo no mundo sozinho
Eu não tenho onde morar
Todo dia de tardinha
Eu venho aqui brincar
Mas todos correm de mim
Por isto eu brinco sozinho
Sempre aqui neste lugar
Perguntei pelos seus pais
Respondeu emocionado
Os meus pais se separaram
Cada um seguiu pra um lado
Vivendo com gente estranha
Apanhei, fui humilhado
Resolvi fugir de casa
Cansei de ser maltratado
Minha sina foi ingrata
É assim que o povo trata
O menor abandonado
Na escola eu nunca fui
Brinquedo eu nunca ganhei
Ontem eu dormi sem janta
Hoje ainda não almocei
Muitas vezes passo fome
Mas roubar nunca roubei
Pelos erros dos meus pais
Eu acho que já paguei
O direito me ignora
A lei me deixa de fora
Mas não sou fora da lei
Venha comigo garoto
Me comove o seu passado
Lhe dei abrigo e carinho
Brinquedo, roupa e calçado
Procurei um orfanato
Conversei com o juizado
Tomei todas as providências
Pra ele ser adotado
Você fazendo o que fiz
Vai fazer muito feliz
O menor abandonado