Me contou um ferroviário
Lá pras bandas de Cerquilho
Que uma moça apaixonou-se
Por um sujeito andarilho
Ela teve uma criança
Mas pra ela era empecilho
Colocou o bebê no cesto
E pôs em cima do trilho
Para o cargueiro noturno
Dar fim no seu pobre filho
E daquela estação
Quando o cargueiro partia
Pelo clarão dos faróis
De longe o maquinista via
Um cesto em cima do trilho
E alguma coisa mexia
Ele parou o vapor
Para ver o que acontecia
Encontrou um recém nascido
Que de fome e frio gemia
Ele criou o menino
Pra mais tarde esclarecer
És o meu filho adotivo
E como foi vou lhe dizer
Te encontrei dentro de um cesto
Sobre um trilho pra morrer
O rapaz lhe respondeu
Isso eu não vou esquecer
Por ter salvo a minha vida
Um maquinista eu quero ser
E o jovem ferroviário
Em um dos seus vai e vem
Com uma mulher no trilho
Foi surpreendido porém
Ela disse a minha vida
Não vale nenhum vintém
Pus o meu filho no cesto
Pra morrer embaixo do trem
Do jeito que ele morreu
Eu quero morrer também
Ele abraçou a mulher
Chorando de emoção
E disse és minha mãe
Veja o quanto Deus é bão
Naquela noite fui salvo
Por duas benditas mãos
Sou o seu filho e estou vivo
Para lhe dar o perdão
Eu sou o menino do cesto
Lá do trilho da estação