Especialmente nas décadas de 70 e 80, com o mundo menos globalizado, era relativamente comum vermos canções que não eram hits lá fora ficarem muito conhecidas no Brasil.
Na maioria das vezes, tal fenômeno se dava após a inclusão de uma música na trilha de uma novela. Tamanho era o poder dos folhetins de popularizar uma faixa no país que isso costuma ser mencionado nas entradas da Wikipedia de algumas faixas.
Se além de embalar um personagem ou casal, a canção também caía no gosto dos programadores de rádios, o resultado era um só: um grande hit local que, não raro, surpreendia os artistas quando eles tomavam conhecimento do fato.
Em outras ocasiões, esses sucessos se deram por motivos diferentes: a vinda de um nome ao país, cantores ou bandas que se tornaram muito populares no Brasil, aumentando sua presença nas programações, ou mesmo o bom e velho imponderável.
A lista abaixo mostra dez músicas que são muito mais conhecidas no Brasil que no exterior. Confira:
Essa power ballad virou um grande sucesso no Brasil em 1986 e o seu clipe também foi muito visto na televisão naquela época. Quando lançaram essa canção, o Century era uma banda que já tinha algum tempo de estrada.
"Lover Why", também fez sucesso na França, terra natal do quinteto, e em alguns países europeus, mas nunca chegou com força nos mercados dos EUA e Reino Unido. Por aqui ela é daquelas que atravessaram gerações e ainda marcam presença em rádios e festas de flash back.
"Skyline Pigeon" foi gravada pela primeira vez em 1969, no álbum de estreia de Elton: o pouco conhecido "Empty Sky".
Em 1973, já consagrado mundialmente, o músico regravou a canção, agora com a sua banda - a original tinha arranjo para cravo e órgão - e a colocou no lado B de um compacto.
A música entrou na trilha da novela "Carinhoso" e se tornou não só um sucesso, mas quase um sinônimo do artista no Brasil. O que muitos fãs locais talvez até hoje não saibam, é que no resto do mundo a faixa é pouco conhecida.
Quando Elton veio ao país pela primeira vez, em 1995, ele não colocou a música no setlist, o que certamente frustrou boa parte do público.
Em 2009, quando retornou, ele já estava ciente que "Skyline Pigeon" não podia ficar de fora de seus shows brasileiros e passou a incluí-la sempre que se apresentava no país - desde 2011 ele só a tocou em 20 ocasiões, sendo 15 no Brasil.
Outra balada que estourou graças ao combinado trilha de novela (nesse caso "Rainha da Sucata", de 1990) e presença nas rádios. Esta balada adulta não tinha nenhum traço do reggae que fez de Jimmy Cliff uma lenda da música e passou despercebida, assim como o álbum "Images", nas principais paradas do planeta.
O álbum "Whammy" (1983) era o mais recente da banda norte-americana quando eles foram convidados para tocar no primeiro Rock in Rio, em janeiro de 1985. Como era preciso divulgar as atrações que estariam no festival, esse single começou a ser bastante tocado - especialmente o clipe na televisão. Se nos EUA e Inglaterra, a música não fez praticamente nenhum sucesso (número 81 na Billboard) e logo foi esquecida, para nós, "Legal Tender" se tornou um marco dos anos 80.
Em 1999, o grupo voltou ao país e não a tocou para a frustração da plateia - que ficou sem entender como eles se atreviam a não tocar seu "maior" hit,
Quando perguntados sobre a questão, os integrantes ficaram surpresos dizendo que, lá fora, nunca lhes pediam para tocar essa nos shows. Após esse "vacilo", a lição foi aprendida. Em todas as visitas subsequentes da banda ao país, "Legal Tender" foi mostrada.
Tim Moore gravou discos de soft rock nos anos 70 pelo cultuado selo Asylum, sem maior repercussão (um single no 58° lugar na Billboard foi o melhor que conseguiu). Em 1985, ele voltou a gravar, novamente sem muto sucesso.
Para sorte do cantor, "Yes" foi parara na trilha do remake de "Selva de Pedra" (1986) e caiu nas graças das rádios brasileiras. Resultado? A música se tornou uma das mais populares de 1986 e Moore pasou uma temporada no país aparecendo em programas de televisão e fazendo shows.
Tim nunca mais gravou outro disco, e seu hit brasileiro, junto com seus bons álbuns da década de 70, estão ausentes do Spotify. — o que significa que ele está deixando de ganhar um bom dinheiro com direitos autorais. No YouTube ela também só é encontrada em vídeos feitos por fãs.
Ao contrário do que diz o hit de Sullivan e Massadas gravada pelo Roupa Nova, "Do You Wanna Dance", não está no álbum "Whisky A Go Go". Rivers gravou uma série de álbuns na famosa casa de Los Angeles, mas o repertório desses LPs era formado por músicas mais agitadas - ou seja não eram para ser ouvidas "à meia luz".
"" foi um hit dos primórdios do rock and roll gravada por Bobby Freeman e tinha um clima mais próximo do calipso. Em 1965, os Beach Boys a regravaram em versão ainda mais animada, assim como John Lennon (em andamento de reggae, em 1975) e os Ramones em uma cover punk, de 1977.
No Brasil, nenhuma dessas gravações chega perto da popularidade da versão "para dançar juntinho" feita por Johnny Rivers em "Images", seu álbum de 1966 (no Brasil, ela foi incluída no LP "Realization", de 1968).
Assim como aconteceu com Elton John e os B-52's, o norte-americano também disse que só aqui pediam para ele tocar a música, que nunca foi lançada em single e era apenas uma "album track", que acabou encontrando seu público no Brasil.
Se em boa parte do mundo o trio norueguês teve uma presença mais discreta após a explosão de "Take On Me" (1985), no Brasil, o trio norueguês manteve-se como uma das bandas mais populares do nosso mercado.
Ao venderem muito mais discos que várias estrelas do primeiro escalão do pop e rock mundial da década de 80, Morten Harket e cia. tiveram, como consequência desta situação, um número bem maior de grandes sucessos nas nossas paradas.
"You Are The One", por exemplo, foi o quarto single de "Stay On These Roads", terceiro disco deles (1988), e se destacou apenas na parada do Reino Unido, onde pegou um respeitoso 13° lugar.
Por aqui, a faixa foi um grande hit radiofônico, daqueles que todo mundo até hoje sabe cantar. Resumindo: mais uma música que é presença obrigatória nos setlists dos shows realizados no Brasil que não costuma dar as caras em outras partes do mundo.
Quando "Build" entrou na trilha de "Bebê A Bordo", em 1988, os Housemartins já haviam encerrado a sua carreira após dois discos que misturavam indie, soul e influências do pop ingênuo dos anos 60.
Na Inglaterra, a música chegou ao 15° lugar, ótima posição para um grupo independente, mas foi no Brasil que ela se tornou onipresente, a ponto de até hoje ser carinhosamente chamada de "melô do papel".
Com o fim do grupo, o baixista Norman Cook se transformou no DJ superstar Fatboy Slim e o vocalista Paul Heaton formou o The Beautiful South, grupo que foi extremamente popular na Inglaterra e nunca conseguiu repetir o sucesso em outros países. No Reino Unido, Heaton, hoje em carreira solo, é uma instituição local, sempre lotando shows e colocando seus novos álbuns nos primeiros lugares da parada.
Aqui é bom desfazer o mito de que o Information Societry só fez sucesso no Brasil. Nos EUA, o trabalho de estreia do grupo de dance music ganhou disco de ouro e eles tiveram dois singles no top 10 da Billboard - "What's On Your Mind (Pure Energy)" e "Walking Away".
O que podemos dizer, é que eles impactaram mais entre nós onde tiveram mais hits e fizeram shows mais imponentes do que em sua terra natal. É o caso de "Repetition", que não passou do 76° posto nos EUA e tocou muito nas nossas rádios.
A poderosa balada "A Matter Of Feeling" está em "Notorious" (1987), o quarto álbum dos ingleses e não foi trabalhada como single no exterior - difícil entender as razões. No Brasil, ela foi incluída na trilha da novela "Mandala", de 1988, e se tornou bastante popular.
Ao vivo, a música só foi tocada pela banda na época de seu lançamento e desapareceu dos shows. Segundo o Setlist.fm, o Duran Duran não a mostra ao vivo desde 15 de janeiro de 1988. Onde esse show aconteceu? Em São Paulo, na primeira edição do festival Hollywood Rock.
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