Volta prá casa, guaipeca! Ralhei e ralhei com ele. Parava um pouco, fugia, farejava qualquer coisa, depois voltava prá mim. O capataz não gostou, na estância só tinha galgo, mas o guaipeca ficou.
Botei-lhe o nome de sorro, as crianças, de brinquinho, mas o nome que pegou foi de guaipeca amarelo.
Ficou seis anos na estância. Lidava com gado e ovelha sempre atento e voluntário. Se um boi ganhava no mato, o guaipeca só voltava depois de tirá prá fora.
Era quase de brinquedo a cachorrinha da moça. Baixinha, reboladera, pêlo comprido e tratado, andava só na coleira e tinha medo de tudo, por qualquer coisa acoava.
Mas numa noite de lua, foi mais forte a natureza. A cadela tava alçada e o guaipeca atrás dela entrou por uma janela e foi uma gritaria quando encontraram os dois.
Perdão, lhe disse, o coitado não entende dessas coisa. Deixe qu'eu leve prá o posto do fundo, com meu compadre, depois que passá o verão. Capa o cusco, VitalÃcio! E tu, pega os teus pertence e vai buscá o teu cavalo.
Que diacho! Eu gostava do meu cusco. Bicho não tem alma, eu sei bem. Mas será que vivente tem?
Campiei ele no galpão, nos brete, pelas mangueira e nada do desgraçado. No fim, já meio cansado, peguei o ruano velho e fui buscá o meu cavalo.
Com o tordilho por diante, vinha pensando na vida. Posso entrá numa comparsa, mesmo no fim das esquila. Depois ajeito os apero e busco colocação, nem que seja de caseiro, se nã me ajustam de peão. E levo o cusco comigo pois foi o único amigo que nunca negou a mão.
Nisso, ouvi a gritaria e os ganido do meu cusco que era um grito de susto, de medo, um grito de horror. Toquei a espora no ruano mas era tarde demais. Tinham feito a judiaria e o pobrezinho sangrava, sangrava de fazê poça e já chorava fraquinho.
Peguei o cusco no colo e apertei o coração. O sangue tava fugindo, não tinha mais esperança. O cusco foi se finando e os meus olho chorando, chorando que nem criança.
Que diacho! Eu gostava do meu cusco. Bicho não tem alma, eu sei bem. Mas será que vivente tem?
Nessa hora desgraçada o tal mocito voltou prá sabê pelo serviço. Botei o cusco no chão, passei a mão no facão e dei uns grito com ele, com ele e com o VitalÃcio!
Ele puxô do revólver mas tava perto demais. Antes que a bala saÃsse, cortei ele prá matá. Foi assim, bem direitinho. Eu não tô aqui prá menti. É verdade qu'eu fugi mas depois me apresentei. Me julgaram e condenaram mas o pior que assassino, foi dizerem que o motivo era pouco prá o que fiz...
Que diacho! Eu gostava do meu cusco. Bicho não tem alma, eu sei bem. Mas será que vivente tem?
Confirmação de Idade
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Compositor: Alcy Jose de Vargas Cheuiche (Alcy Cheuiche) (SOCINPRO)Publicado em 2000 (01/Abr)ECAD verificado obra #22323088 e fonograma #42525 em 12/Abr/2024 com dados da UBEM